Em 15 de novembro de 1889, o Brasil abandonava oficialmente a monarquia e proclamava a República, um marco histórico que prometia transformar a jovem nação em uma democracia vibrante, comprometida com a igualdade e o bem-estar de seu povo. Porém, mais de 130 anos depois, o que era para ser a concretização do sonho republicano ainda parece um projeto incompleto.
Hoje, ao olharmos para o cenário político nacional, é difícil não questionar se estamos vivendo o verdadeiro espírito republicano. O Brasil se encontra marcado por desigualdades gritantes, uma polarização política que beira o insustentável e instituições que, embora robustas no papel, nem sempre cumprem plenamente seu papel de guardiãs da democracia.
Para o cientista político Norberto Bobbio, “a democracia não é um ponto de chegada, mas um processo contínuo de construção”. No Brasil, a ausência de políticas públicas eficazes para reduzir a desigualdade e garantir acesso pleno a direitos básicos escancara como estamos falhando nesse processo. A Proclamação da República simbolizou o rompimento com a concentração de poder e privilégios que caracterizavam o regime imperial. No entanto, os dias atuais revelam uma preocupante concentração de influência em grupos políticos e econômicos, muitas vezes distantes das reais necessidades da população.
Além disso, vivemos o que o sociólogo Zygmunt Bauman chamou de “modernidade líquida”, na qual os laços sociais e políticos se tornam frágeis e voláteis. Isso se reflete em uma sociedade onde a polarização dificulta diálogos produtivos e o engajamento político da população se torna mais reativo do que propositivo. A escalada de discursos populistas, de desinformação e da judicialização da política não apenas enfraquece a confiança nas instituições, mas também ameaça a essência do sistema republicano.
A verdadeira República não pode ser apenas um regime político; ela deve ser um compromisso com a justiça e a igualdade. Como bem afirmou Montesquieu, “a virtude é a alma da República”. Quando a corrupção e os interesses particulares sobrepõem-se ao bem comum, esse ideal se enfraquece. Hoje, o Brasil precisa mais do que nunca de lideranças que estejam comprometidas com a transparência, a ética e o fortalecimento das instituições democráticas.
O maior legado do 15 de novembro deveria ser a construção de uma sociedade mais justa e participativa, onde o povo tivesse voz ativa no destino da nação. Contudo, vivemos tempos em que o abismo entre as promessas de campanha e as práticas de governo só se amplia. Enquanto milhões lutam para sobreviver, enfrentando inflação, falta de acesso a serviços básicos e insegurança alimentar, vemos uma classe política frequentemente mais preocupada com alianças de ocasião do que com soluções de longo prazo.
Hoje, o verdadeiro desafio não é apenas honrar a Proclamação da República como um marco histórico, mas também trabalhar para que ela se traduza em mudanças concretas. Isso requer, como bem disse Hannah Arendt, “a coragem de começar algo novo”. É preciso combater privilégios, fomentar a transparência e promover o engajamento popular. Precisamos resgatar o espírito do republicanismo, que preza pelo bem coletivo acima dos interesses particulares.
O 15 de novembro deve nos levar à reflexão: que República queremos construir? Que Brasil queremos deixar para as próximas gerações? Afinal, ser republicano vai além do sistema de governo; é um compromisso ético com a democracia e a justiça social.
O Brasil ainda é um país em construção, mas a cada 15 de novembro, temos a chance de reafirmar a esperança de que a República que sonhamos não apenas seja possível, mas também inadiável.
Lucas Santos
Jornalista, Portal Pin News
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